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Desde há algum tempo que somos “assaltados” pelos media , com notícias de eventos de exceção, sejam eles acidentes multivítimas, catástrofes naturais ou provocadas pela ação do homem, e isto deixa-nos desconfortáveis, tanto pela falta de aviso como pela introspeção, talvez, da nossa não preparação. No entanto, a nossa aparente normalidade, depressa nos faz regressar ao conforto, e acabamos por seguir a nossa vida.
Mas afinal, o que é a Medicina de Catástrofe? Porque se fala nisso e porque é importante?
A Medicina de Catástrofe é uma área de conhecimento que se encontra em expansão, era uma raridade, agora, com tendência a tornar-se uma especialidade médica, pois tornou-se cada vez mais frequente, infelizmente. A catástrofe, é, por definição da Lei de bases da Proteção Civil – Decreto Lei Nº 27/2006, um “Acontecimento súbito quase sempre imprevisível. É o acidente grave, ou a série de acidentes graves (de origem natural ou tecnológica), susceptíveis de provocarem elevados prejuízos materiais e, eventualmente, vítimas, afetando intensamente as condições de vida e o tecido socioeconómico em áreas ou na totalidade do território nacional”. Definição pela “United Nations International Strategy for Disaster Reduction): A catástrofe é “Uma séria interrupção do funcionamento de uma comunidade ou sociedade envolvendo perdas e provocando impacto nos tecidos humano, material, económico ou ambientais, que excedem a capacidade da comunidade ou sociedade afetada de lidar com os seus próprios recursos.”
As mudanças climáticas estão a ter consequências nefastas no nosso planeta, bem como os conflitos armados, em várias regiões, então, “de repente” estamos a lidar com catástrofes naturais e catástrofes provocadas pela ação do homem, em simultâneo, por vezes a acrescentar à realidade que já presenciamos, nos nossos centros de saúde e hospitais, em que experienciamos o desafio constante de ter que dar resposta a muitos utentes, muitas das vezes em condições não ideais.
Será que é pertinente estarmos preparados para o inesperado? Porquê tomar uma atitude de mitigação e prevenção atempadamente? No livro “A Arte da Guerra” Sun Tzu disse “Si vis pacem, para bellum” ou, “Se queres a paz, prepara-te para a guerra”. É porque, talvez, enfrentar desafios inesperados e minimizar impactos de eventos críticos, requeira em primeiro lugar, alguma reflexão, e, depois, muita ação!
A avaliação dos riscos, seja no local de trabalho, seja nas nossas casas, é importante, o treino e gestão de recursos, humanos e materiais, é importante. Mas afinal, o que permite? Segundo Nelson César, paraquedista e comando contando com mais de 20 anos de carreira e várias missões humanitárias integrado em tropas de elite, diz que “a destreza mental, treina-se”, e desafia-nos com a frase “Tens 3 segundos para decidir como vai ser o teu dia”. Nas sua visão, a liderança é importante, na medida em que ensina as melhores práticas para liderar em tempos de crise, desenvolver habilidades para tomar decisões assertivas sob pressão e aprimorar as habilidades de comunicação para com os outros. Permitirá, sobretudo, agir com rapidez e eficácia, precisamente o que precisamos, quando falamos em situações de exceção e catástrofe.
Seria interessante que criássemos um plano, o planeamento é importante para qualquer evento, o desafio é ainda maior, quando se trata de planear para o inesperado. O Prof. Gregory Ciottone, autor do livro “Ciottone´s Disaster Medicine”, que marcou presença no Congresso “2nd International Disaster Medicine Response”,em Toulouse, França durante os dias 24-26 Abril 2024, advertiu, na sua palestra, que devemos “ abstrair-nos e pensar no impensável, e nos cenários mais improváveis, porque é provavelmente isso que irá acontecer” e o Prof. Donald Donahue, Presidente do World Association for Emergency and Disaster Medicine “WADEM”, concluiu no seu discurso que “devemos cuidar uns dos outros”.
Avaliar riscos, realizar planos de contingência, treinar equipas e capacitar pessoas para lidar com situações de exceção, não parece, afinal, tão descabido de ponderar agora.
As três máximas da medicina de catástrofe são: “Fazer o melhor pelo maior número de vítimas”, “Não causar mais dano”, e “Estabelecer a ordem no caos”. Com a formação adequada e hiper-realista, endereçamos estes e mais aspetos pertinentes.
Os benefícios de um planeamento e preparação atempadas, certamente terão impacto na morbilidade e mortalidade das vítimas, caso venha a acontecer. É um imprevisto. A vida, é sempre um imprevisto, e o que temos de mais caro, é o tempo. Usemo-lo para a ação, para criar cidadãos mais preparados e resilientes. Afinal, que futuro queremos deixar para o nosso legado?
E SE ESPERARMOS O INESPERADO?
Autora:
Verónica Aquilino,MD, Secretary-General of the European Council for Disaster Medicine
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